quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Podia ser só amizade, paixão, carinho, admiração, respeito, ternura, tesão. Com tantos sentimentos arrumados cuidadosamente na prateleira de cima, tinha de ser justo amor, meu Deus?


né. ;s
- Descobri! Descobri!
- O quê?
- O que eu quero de um homem. Eu finalmente descobri.
- Um filho.
- Não! Eu achava que era… mas no momento não tenho saco nem pra imposto de renda uma vez por ano, vou ter pra filho a vida toda?
- Alguém pra trepar domingo... sabe aquele tesão ridículo que dá ler um livrinho depois do almoço?
- Isso é umas. Mas não é isso.
- Não vai me dizer que é dinheiro.
- Não, isso é bom pra fazer piada em roteiro. Mas na vida real me dá bode.
- Alguém pra ficar na salinha de espera do Samaritano enquanto o médico tenta separar seu dedão das costas da mão, pós surto de ansiedade?
- Isso também parece ser algo lindo enquanto se luta por, mas quando se consegue, a vida fica chata que só.
- Cinema?
- Prefiro ir sozinha. Juro. É bizarro. Mas adoro ir sozinha ao cinema.
- Sair da toca protegida?
- Prefiro sair com as minhas amigas. Com homem o bom é ficar na cama, sair é pra caçar homem, o que não faz sentido com um.
- Jantar?
- Então, eu não como desde 2004.
- Amar?
- Hmmmm, eu já dedico isso inteiramente a mim e estou longe de me dar o suficiente.
- Então eu não sei.
- Eu quero tratar mal. Eu quero tratar mal. Eu quero tratar mal. Eu quero tratar maaaaaaaaaal !!!!!!!!!!!
- Esse é o problema das mulheres.
- Querer tratar vocês mal?
- É, só querer. A gente vai lá e trata. Fim da obsessão.

A Grande Descoberta - Tati Bernardi


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sexta-feira, 10 de setembro de 2010

"Ah, mas tudo bem. Em seguida todo mundo se acostuma. As pessoas esquecem umas das outra com tanta facilidade. Como é mesmo que minha mãe dizia? Quem não é visto não é lembrado. Longe dos olhos, longe do coração. Pois é." 

(Caio Fernando Abreu!)

Que continue longe .. hahaha

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Angústia

"Como sempre se chacoalhando além do normal no sofá de couro atrás de mim (e fazendo um barulho que sempre me soa como raiva, apesar de ser um dos poucos e raros momentos em que eu não mereço a raiva de ninguém- justamente porque não apenas causo distraída mas fico ali pra sentir junto), minha analista exclamou alto, abismada como senhoras rotineiras em frente a um novo preço da banana: crueldade?
É! Crueldade! A pessoa ficar sentada na sua frente, sorrindo, sem dizer nada, sorrindo, sentada, na sua frente, sorrindo, que mais poderia ser isso?
Então ela suspirou profundo, um misto de "cansaços" de mim e ao mesmo tempo um apreço pelos bichinhos mais difíceis e ignorantes do mundo, e disse: admiração? Não pode ser admiração?
Já fui em cardiologista pra saber se é do sopro. Em gastro pra saber se é do fígado (eu continuo insistindo que não é meu estômago que dói), em psiquiatra pra saber se é falta de alguma química, vitamina, deslocamento de massa. Já fui em benzedeira. Oftalmo pra acertar o mundo. Dentista pra encaixar meu desequilíbrio em devorar e relaxar e falar e deixar. Já fui em tantos médicos. Procurar engana o tempo e talvez seja só isso.
Mas naquele segundo, quando ela disse “admiração” não consegui enganar nada e senti, com talvez um peito mais velho e mais duro (porque a dor dessa hora permitiu que eu fosse emancipada e uma vez, pra sempre) que talvez tanta coisa ruim fosse só porque era boa. E eu, querendo tanto dar conta do mundo, fui incapaz de algumas horas fáceis e bonitas. Pior: talvez minhas por um merecimento que nem tinha mais pra onde ir.
Mas depois, porque sempre volto pra casa atrás de respostas pra tudo, pensei o seguinte. Que é crueldade sim, senhora. Você gostar de alguém e só. Você se sentar na frente, sorrindo, sem dizer nada, sorrindo, na frente, e gostar. Como se dissesse: eu, daqui de onde não preciso de nada além de ser alegrado e dar a mim mesmo esses momentos de ternura e arrepios e capacidades. Gosto de você. Vá, continue passando as mãos pelo cabelo, olhe pra baixo não dando conta dessas lantejoulas todas que tenho para abrilhantar seus estados. Vá, marionete do que planejei pra essa tarde. Eu gosto de você. Eu posso sentir isso. Então, por favor, não estrague e capriche e dê valor. Porque não é sempre e quase nunca. Então, por favor, olha só, eu g.o.s.t.o de você. Tem noção do tamanho dessa plateia para cada sua pequenice? Vamos. Seja.
Estava zapeando o mundo, preguiçoso, desistente e triste. Quando...você! Vá, me alegre, vá, passe as mãos pelo cabelo.
E agradecem, eles sempre agradecem, porque sabem a arrogância que é se servir de mundo sem ter nada pra dar a não ser suas falsas capacidades de gostar. E sabem que jajá partem e, então, não custa ter essa pena benevolente e esse sorriso já menos certeza mas ainda admirando ao longe.
Apesar de soar isso sim egoísmo, não deixo de me ouvir dizendo que quem gosta sente é o desespero pra agradar e ser gostado. A urgência de mostrar ao invés de assistir. A pressa em dar ao invés dessa receptividade toda tão corajosa em acomodar.
Ao invés de sorrir tanto, não são os que choram escondidos os que mais gostam? O resto não são experimentadores de mundo, enganando a gente com espaços que não se emprestam e nem se dão e nem se são desocupados?
Olhando como se fossemos aquelas crianças no farol tentando de tudo. Num dia de não mesmice apesar da obviedade.
Então, então, as bolinhas quase caem, os olhos dele que gosta tanto de mim, caem junto. E o farol abre e vai cada desgraçado prum canto.
Portanto, agora, quando eles sorriem pra mim, sentados de frente, quietos, eu apenas pergunto, já me tirando do lugar de ser gostada: e o que você tem pra mim, afinal? E eu sei futuramente que a resposta é avassaladora, passa por coisas alheias do tipo “nada” e por coisas lindas do tipo “e nada é a boa resposta, garota”. Mas por enquanto, ainda acho tudo assim mesmo. Uma grande e triste e quase intolerável maldade. Um dia, é só o que eu quero, eu vou ficar quieta e entender tudo. Quer dizer: eu vou é querer abrir mão de entender tudo"